F. J. Phillips (1969) descreve o processo de cura como "a sedutora alternativa à capacidade do paciente para submeter-se à experiência de compreender quem ele é, para si mesmo".

 Assim compreendo o processo de reabilitação neuropsicológica... como um processo onde o indivíduo busca a reorganização da vida diária dentro dos parâmetros de autonomia de decisão, da capacidade funcional e de qualidade de vida, algo extremamente individual e personalizado.

 

Neuropsicologia

A neuropsicologia é o campo de investigação das relações entre funções psicológicas e atividade cerebral, as relações existentes entre o cérebro e as manifestações do comportamento. Seu interesse está no estudo das funções cognitivas, como a memória, a linguagem, o raciocínio, as habilidades visuo-espaciais, o reconhecimento, a capacidade de resolução de problemas, etc. As alterações estudadas são as afasias, as agnosias, as amnésicas e as apraxias. Também as alterações nas dimensões da cognição como: 

a) atividades construtivas (execução de tarefas complexas, realização de atos construtivos em seqüência, tarefas psicomotoras, etc.); 
b) habilidades visuo-espaciais (análise e julgamento de relações espaciais, reconhecimento e memorização de figuras complexas, etc.); 
c) atenção sustentada e seletiva; 
d) percepção do tempo e organização temporal; 
e) funções executivas (identificação e resolução de problemas novos, elaboração de estratégias de ação, execução de tarefas seqüenciais, etc.) e, 
f) funções conceituais (formação de conceitos, formação de conceitos, desenvolvimento de raciocínios, pensamento lógico, habilidades aritméticas, etc.). 

O objetivo geral é de identificação de déficits e sua gravidade. Determinação de como eles afetam o funcionamento geral do indivíduo. Estabelecimento das inter-relações entre déficits, as correlações entre déficits específicos e a neuropatologia. 
E os objetivos específicos são de estabelecer e/ou contribuir para um diagnóstico clínico. Delinear o perfil cognitivo em casos de diagnóstico já determinado (estimativa da evolução da enfermidade; do prognóstico de enfermidade; delineamento de programas de reabilitação cognitiva) e o acompanhamento de fármacos. 

O que é o exame? 
O exame neuropsicológico é um complemento importante para o exame neurológico. 
Nele se estabelece tanto a existência, quanto a magnitude de alterações cognitivas secundárias à lesão cerebral, proporcionando análise quantitativa e qualitativa que permite comparação com indivíduos da mesma idade, sexo e escolaridade. 

O objetivo: 
Contribuição para um diagnóstico clínico (p.ex. quadros demenciais incipientes e transtornos cognitivos leves, transtornos do aprendizado), conhecimento acerca do perfil cognitivo do paciente nos casos de diagnóstico já determinado, contribuindo para: 
- estimativa da evolução de enfermidades progressivas (demências); 
- estimativa do prognóstico da enfermidade (traumatismos cranioencefálicos, esquizofrenia, retardo mental, etc.); 
- delineamento de programas de reabilitação cognitiva (acidentes vasculares cerebrais, traumatismos cranioencefálicos, etc.); 
- acompanhamento de fármacos (no tratamento da Doença de Alzheimer). 

Indicações:

- no acompanhamento de demências (Alzheimer, Vascular, etc.);
- no acompanhamento do Déficit Anêmico Associado à idade; 
- no déficit cognitivo pós AVC, TCE e anóxia; 
- no déficit cognitivo pós meningo-encefalites; 
- no déficit cognitivo pós intoxicações (metais pesados, etc.); 
- no déficit cognitivo associado ao alcoolismo; 
- no déficit cognitivo associado a drogas; 
- no déficit cognitivo na epilepsia; 
- no déficit intelectual congênito; 
- no déficit atentivo no TDA forma persistente; 
- nas formas residuais de Transtornos do Aprendizado; 
- nos déficits cognitivos na esquizofrenia; 
- no diagnóstico diferencial das dismnésias (depressão x demência). 

Áreas Cognitivas Avaliadas:

- inteligência global; 
- memória verbal e visual (aquisição, retenção e evocação); 
- memória implícita; 
- capacidade de aprendizado novo; 
- atenção (amplitude, rastreamento, seletividade, alternância e sustentação); 
- linguagem expressiva e receptiva; 
- vocabulário; 
- fluência verbal fonética e semântica; 
- cálculo; 
- abstração; 
- planejamento; 
- habilidades visuo-perceptivas e visuo-construtivas; 
- praxia; 
- agnosia; 
- destreza visuo-motora; 
- tato; 
- força muscular; 
- nível de conhecimentos gerais; 
- flexibilidade cognitiva (capacidade de formular hipóteses e de modificá-las). 


Exame Pediátrico 

É fundamental na definição de vários diagnósticos, como dos distúrbios de natureza global, os distúrbios de todo espectro das disfunções cerebrais específicas como a Dislexia ou o TDAH. 
A avaliação contribui para uma delimitação prognóstica, quando se esboça o perfil evolutivo do distúrbio aliado ao perfil evolutivo da criança em relação às funções cognitivas, psíquicas, comportamentais e mentais. O exame também pode ser essencial para a delimitação de seqüelas potenciais da capacidade de recuperação de crianças que irão ser submetidas a procedimentos invasivos ou que envolvem áreas cerebrais eloqüentes. 

Exame em Adulto 

A avaliação das funções cognitivas complementa os dados dos exames de imagem. O exame neuropsicológico utiliza-se de testes específicos que avaliam aspectos diversos de todas as funções cognitivas. É o ponto de partida para o estabelecimento de um perfil de habilidades e dificuldades. A junção dos dados da história prévia e atual levam à compreensão de quais aspectos do exame são mais relevantes para serem abordados em um trabalho de reabilitação cognitiva. A avaliação no período inicial têm papel importante no estabelecimento de uma linha de base para o acompanhamento evolutivo do quadro. 

Exame em Idoso 

A avaliação neuropsicológica no idoso identifica o declínio cognitivo, porque pessoas com déficits cognitivos ou fases iniciais da instalação de uma doença degenerativa ainda têm capacidade residual de aprendizagem e conseguem aprender a lidar com estratégias compensatórias, usando suas habilidades mesmo depois de limitados neurologicamente. 
A avaliação neuropsicológica do idoso permite a identificação dos sintomas associados às doenças neurológicas e avalia a gravidade do comprometimento cognitivo e as habilidades residuais do paciente. 

O Programa de Reabilitação 

A importância da avaliação (exame) neuropsicológica não se limita aos aspectos diagnósticos e prognósticos, mas das estratégias que seriam mais efetivas para o processo de reabilitação cognitiva, uma vez que lesões semelhantes podem ter diferentes expressões cognitivas. Logo, a reabilitação neuropsicológica objetiva a adaptação do indivíduo ao seu ambiente. 
A reabilitação implica na restauração neuropsicológica do paciente ao seu nível máximo de adaptação física, psicológica e social, o que inclui todas as medidas voltadas à redução do impacto de uma incapacidade ou deficiência e à reintegração social. 
Na reabilitação neuropsicológica são planejadas atividades terapêuticas para cada paciente, que visam auxiliá-lo no restabelecimento de sua qualidade de vida e reintegração ao seu meio familiar, social e profissional. 

Reabilitação Pediátrica 

O exame neuropsicológico não se limita aos aspectos diagnósticos e prognósticos, mas das estratégias que seriam mais efetivas para o processo de reabilitação cognitiva, uma vez que lesões semelhantes podem ter diferentes expressões cognitivas e a criança poderá mobilizar diferentes estratégias. O exame permite entender não só a delimitação de déficits e a repercussão no contexto seqüelar, mas também as reservas funcionais do cérebro, que vão dar base para a escolha de alternativas de reabilitação em bases neurobiológicas. Ou seja, irá mostrar uma dimensão da reserva funcional, o que permitirá estabelecer alternativas e estratégias (cognitivas) dentro de uma realidade neuropsicológica efetiva no sentido de orientar o processo de reabilitação. 

Reabilitação em Adulto 

As técnicas de reabilitação podem atuar em níveis diferentes: no nível de estrutura do corpo, como o Treino Cognitivo (restauração de função); estratégias compensatórias (internas e externas) que atuam no nível da atividade e da participação social, com o intuito de melhorar a funcionalidade do indivíduo. 

Reabilitação em Idoso 

É variável quanto ao diagnóstico e a gravidade da doença. As intervenções visam à estimular a orientação temporal, a memória auto-biográfica, emocional e a semântica, com exercícios que estimulam a função cognitiva de acordo com o nível de incapacidade do paciente. 

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